REFORMA
MELHORA A QUALIDADE DO ÓRGÃO DE
TUBOS DA IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO
LUTERANA DE BRUSQUE
Flautas, tubos,
tábuas, organista, organeiro. Essas palavras
soam muito estranhas para aqueles que não
entendem muita coisa de instrumentos musicais,
em especial, órgão de tubo. Porém,
para ouvir o som que dele ressoa não
é necessário entender dados técnicos.
Basta fechar os olhos e sentir a paz que ele
provoca.
E para melhorar ainda mais essa sensação,
os responsáveis pela Igreja Luterana
Bom Pastor de Brusque, no Centro, decidiram
chamar o organeiro Guido Claúdio Gauer
de Novo Hamburgo (RS), técnico de manutenção,
para reformar as peças do instrumento,
o maior de Brusque, que conta com 1200 flautas.
De acordo com Guido e com o organista oficial
da igreja, Anderson Klabunde, o aparelho da
igreja apresentava problemas em algumas peças,
o que impedia a produção de um
som mais baixo, utilizado, por exemplo, para
batismos. “Porém, na hora das celebrações
sempre encontramos um jeito para driblar esses
problemas”, afirma Anderson.
Entretanto, os truques utilizados para manter
o som harmonioso não serão mais
necessários a partir de hoje, quarta-feira,
data final para a conclusão da obra realizada
desde sábado retrasado. “Estamos
cuidando da afinação do instrumento.
Esta depende da qualidade das tábuas
que estão sendo trocadas, e das flautas
ou tubos que estão quebrados e foram
soldados”, declara Guido. Segundo ele,
o compensado das tábuas será trocado
por MDF e, provavelmente, não deve voltar
a incomodar nos próximos anos.
O desgaste dessas peças é resultado
de 46 anos de uso. Desenhado e idealizado por
Aldo Krieger em setembro de 1958, ele foi construído
por alguns organistas da época com a
ajuda do próprio Guido. “Quando
eu ajudei a construir o órgão,
eu era muito jovem. Hoje, eu seria o mestre,
graças a experiência adquirida
ao longo desses anos”, afirma Guido, que
explica que ele é um dos três técnicos
de órgão do País.
Segundo ele, o trabalho de cuidar deste instrumento
é bastante delicado devido aos inúmeros
detalhes e, por muitas vezes, se torna cansativo
e estressante. “Para encontrar um erro,
às vezes, é preciso procurar e
tentar mais de 20 soluções”,
afirma.
Uma relíquia,
um patrimônio
Com 46 anos de idade, o órgão
demorou de seis a oito meses para ficar pronto.
De acordo com Guido, na época, a empresa
para a qual ele trabalhava não valorizava
muito esse instrumento, pelo baixo lucro que
rendia a eles e também pelo desenvolvimento
da tecnologia que apresentava os harmônicos.
“O que eles não tinham noção
na época, é a qualidade do som.
O do órgão de tubos preenche a
igreja. Já o outro, se concentra em um
único lugar”, afirma o organista
Anderson.
Hoje, o instrumento pode ser considerado uma
verdadeira relíquia, um patrimônio
da cidade, tanto que virou até cartão-postal.
De acordo com o organeiro Guido, são
poucos órgãos no País que
estão em boas condições
de uso. A falta de manutenção
e, principalmente, de verba faz com que eles
sejam tomados pelos cupins e pela desafinação.
De acordo com o organeiro, no Brasil, há
cerca de 100 órgãos que deveriam
ser revisados anualmente. O mais antigo do Brasil,
ele avalia que deve estar em Petrópolis,
no Palácio Imperial desde a época
da independência.
Se bem preservado o instrumento pode durar até
200 anos ou mais. No caso da Igreja Luterana,
a importância de sua preservação
também tem valor sentimental, pois a
sua construção só foi possível
com o apoio de pessoas da comunidade e de empresas
da cidade. Na época, foi lançada
a campanha Pró-Órgão –
Abre teu coração. “Na década
de 60, as pessoas tinham como contribuir. Não
haviam tantos gastos como hoje e, além
disso, era uma diversão e um orgulho”,
afirma Guido.
Se o órgão fosse construído
hoje, não sairia por menos de R$ 800
mil. “Mas isso é quase impossível.
Não existe mão-de-obra capacitada
para isso e as peças teriam todas que
serem importadas da Europa, encarecendo ainda
mais o preço”, aponta. Por isso,
a importância de manter esse patrimônio.
Reforma
das placas por onde passa o ar para os
tubos |
Organeiro,
Sr. Guido Gauer, testando o som das flautas |
Flautas
no interior do órgão |
Jornalista Wânia
C. Bittencourt